domingo, 25 de agosto de 2013

- Joana, atende esse telefone!

- Que telefone, vó?

- Será que não está ouvindo?

- Ouvindo o que?

- Esse pi-pi-pi.

- Isso é um alarme de carro que disparou lá na rua, vó.

- Tem certeza?

- Claro que tenho, vó.

- Esses barulhinhos hoje  são todos iguais só pra confundir a gente. O trim-trim dos telefones antigos era muito melhor. Pelo menos a gente não confundia. Vamos tomar um sorvete?

- Tenho que fazer o dever de casa, vó.

- Depois você faz, vamos.

- Mamãe não vai gostar...

- Ela nem vai saber. Adoro aquele sorvete de pistache ali da esquina.

- Que esquina, vó?

- A sorveteria ali da esquina.

- A sorveteria fica a dois quarteirões daqui. Ali na esquina tem uma pizzaria.

- Ué, mudou?

- Não vó, sempre foi ali.

- Sempre nada, menina. Você ainda é muito pequena pra lembrar.

- Vó, eu já tenho doze anos...

- Doze? Em que ano nasceu?

- Oitenta e oito.

- Então tem nove!

- Vó, nós estamos em 2001, vou fazer treze em setembro!

- Já?... Como você cresceu!

- Ai meu Deus... Vamos então na sorveteria antes que mamãe chegue.

- Que sorveteria minha filha?

- Você não disse que queria tomar um sorvete de pistache?

- Ah, eu adoro! Mas agora não, você tem que fazer o dever de casa e depois se a sua mãe descobre, vai reclamar é comigo.

- Ih, tá complicado...

- O que, minha filha? O seu dever?

- Não vó, ainda nem comecei a fazer.

- Não? Então vamos na sorveteria lá da esquina tomar um sorvete antes que sua mãe chegue...