- Joana, atende esse telefone!
- Que telefone, vó?
- Será que não está ouvindo?
- Ouvindo o que?
- Esse pi-pi-pi.
- Isso é um alarme de carro que disparou lá na rua, vó.
- Tem certeza?
- Claro que tenho, vó.
- Esses barulhinhos hoje
são todos iguais só pra confundir a gente. O trim-trim dos telefones
antigos era muito melhor. Pelo menos a gente não confundia. Vamos tomar um
sorvete?
- Tenho que fazer o dever de casa, vó.
- Depois você faz, vamos.
- Mamãe não vai gostar...
- Ela nem vai saber. Adoro aquele sorvete de pistache ali da
esquina.
- Que esquina, vó?
- A sorveteria ali da esquina.
- A sorveteria fica a dois quarteirões daqui. Ali na esquina
tem uma pizzaria.
- Ué, mudou?
- Não vó, sempre foi ali.
- Sempre nada, menina. Você ainda é muito pequena pra
lembrar.
- Vó, eu já tenho doze anos...
- Doze? Em que ano nasceu?
- Oitenta e oito.
- Então tem nove!
- Vó, nós estamos em 2001, vou fazer treze em setembro!
- Já?... Como você cresceu!
- Ai meu Deus... Vamos então na sorveteria antes que mamãe
chegue.
- Que sorveteria minha filha?
- Você não disse que queria tomar um sorvete de pistache?
- Ah, eu adoro! Mas agora não, você tem que fazer o dever de
casa e depois se a sua mãe descobre, vai reclamar é comigo.
- Ih, tá complicado...
- O que, minha filha? O seu dever?
- Não vó, ainda nem comecei a fazer.
- Não? Então vamos na sorveteria lá da esquina tomar um
sorvete antes que sua mãe chegue...